ANÁLISE DAS
COMPETÊNCIAS SEGUNDO O SAEB ATRAVÉS DE UM EXERCÍCIO
SOBRE O MÉTODO
CIENTÍFICO EM ALUNOS DO ENSINO MÉDIO DA MODALIDADE JOVENS E ADULTOS
José Antonio Muniz
Mestrado
Profissional em Ensino das Ciências na Educação Básica
Unigranrio
(RJ) joseantoniomuniz@yahoo.com.br
Eixo Temático: Eixo 4 - Políticas
e Práticas na Educação de Jovens e Adultos
Categoria: Pôster.
INTRODUÇÃO
Criado em 1988 com o intuito de
acompanhar a qualidade do ensino nas escolas brasileiras e propor ações para
melhoria deste ensino, o SAEB se tornou o melhor subsídio para as políticas
educacionais do pais. Sendo um sistema
aberto e de claras e bem definidas regras e estratégias na obtenção de seus
resultados, o mesmo se constituiu de base para inúmeros trabalhos científicos
educacionais, ampliando o conhecimento da educação do pais. A utilização de
descritores na avaliação destas competências e habilidades nas diversas
disciplinas que compõem o ensino básico, assim como seu nível de complexidade e
de evolução do conhecimento cognitivo do aluno, implementou uma base concreta
para a avaliação destes descritores.
Segundo
Perrenoud (1999):
"... uma capacidade de agir eficazmente em um
determinado tipo de situação apoiada em conhecimento, mas sem limitar-se a
eles".
No entanto, o próprio autor afirma no
mesmo papel que não existe uma definição clara e partilhada das competências. A
palavra tem muitos significados, e ninguém pode pretender dar a definição....
Assim como Machado (2002):
“Hoje, parece
mais claro que o desenvolvimento científico não pode ser considerado de forma
desvinculada do projeto a que serve... as ciências precisam servir as pessoas e
a organização da escola deve visar ao desenvolvimento das competências
pessoais. ”
Ao
elaborar as matrizes de referência, o INEP (2001) associou os conteúdos às
competências cognitivas, aliando-se a definição de Perrenoud (1993) elaborando
e selecionando descritores a partir de:
“ uma associação entre conteúdos curriculares e
operações mentais desenvolvidos pelos alunos e que traduzem em certas
competências e habilidades. ”
Na prática do dia-a-dia em sala de
aula, pouco os professores se utilizam dos resultados e ferramentas no Saeb
para a avaliação de seus alunos e produção de suas aulas, se preocupando mais
com o conteúdo do que outra questão, no entanto, foi citado no recente PDE
(Brasil,2008) como estes métodos e resultados poderiam servir como ferramenta
aos professores:
“Acreditamos, pois, que você, professor possa
fazer uso desse instrumental para uma reflexão sobre sua prática escolar e
sobre o processo de construção do conhecimento dos alunos, considerando-se a
aquisição de conhecimentos e o desenvolvimento das habilidades necessárias para
o alcance das competências exigidas na educação básica.”
Quanto aos ganhos ao utilizar uma
aula prática, Borges (1997) demonstra que atividades práticas desenvolvidas em
sala de aula podem ocorrer sem a necessidade de instrumentos de alto custo e
que tais atividades ajudam os alunos a obter um conhecimento sobre fenômenos
naturais através destas experiências. As utilizações de práticas experimentais
em sala de aula já se mostraram vantajosas para alunos e professores
facilitando o aprendizado (Hoernig & Pereira, 2004). Segundo os PCN a transmissão do saber em
Biologia pode se dar através de uma grande variedade de linguagem e recursos,
de meios e de forma de expressão conforme descrito por Miguens e Garret (1991)
os quais citam que a educação em Biologia deveria ser praticada por meio de
atividades práticas cuja finalidade estaria na construção daqueles
conhecimentos. Segundo Hodson (1994), o
uso das simulações favorece o estudo dos conceitos e fenômenos, uma vez que
pode ser superada as dificuldades encontradas nos experimentos, como tempo
dedicado e, muitas vezes, cálculos complicados envolvidos no experimento além
de outras variáveis não controladas. O uso de um roteiro auxilia os alunos a
melhor se adaptar, diminuindo as incertezas (Espinosa,2010).
Este trabalho tem como intuito, analisar o
nível de certos descritores para o Ensino Fundamental encontrados nas Matrizes
Curriculares de Referência (SAEB,1999) e seus níveis de atuação (básico, operacional
e global) e alguns parâmetros sociais em alunos do ensino médio da modalidade
Jovens e Adultos, utilizando-se de um exercício sobre o método científico a fim
de determinar até que ponto alunos deste ensino ainda apresentam deficiências
em determinadas competência apropriadas no ensino fundamental.
MÉTODOS
Desde as primeiras propostas de
mudança no rumo da educação brasileira tais como os PCN’s (Brasil,1997),
observamos a preocupação na definição de descritores que norteassem a direção a
ser tomada para aquisição do conhecimento dos estudantes brasileiros. Tais
descritores já vinham sendo trabalhados e já havia um estudo adiantado na
importância destes na avaliação da educação do pais. Além da determinação destes descritores foram
classificados em três degraus de acordo com a sua complexidade conforme
determinou-se no SAEB (1999):
“As
competências podem ser categorizadas em três níveis de ações e operações
mentais, que se diferenciam pela qualidade das relações estabelecidas entre o
sujeito e o objeto do conhecimento.
No nível básico encontram-se as ações que
propiciam a construção dos conceitos.
No nível operacional encontram-se as ações
coordenadas que pressupõem o estabelecimento de relações entre os objetos;
possibilitando sua aplicação a outros contextos.
No nível global encontram-se ações e operações
mais complexas, que envolvem a aplicação de conhecimentos a situações
deferentes e a resolução de problemas inéditos. ”
SEQUÊNCIA DIDÁTICA
SEQUÊNCIA 1: São descritos para os alunos todos os
passos o método científico e são distribuídos os exercícios com o material a
ser experimentado.
SEQUÊNCIA 2: Os alunos medem
as folhas e completam a planilha.
SEQUÊNCIA 3: Dimensionam o
gráfico para os pontos de comprimento e largura das folhas.
SEQUÊNCIA 4: Produzem a curva e analisam-na.
SEQUÊNCIA
5: Descrevem a forma de crescimento das folhas utilizando o gráfico como
referência.
Após a execução do exercício, os alunos são
convocados a responderem um questionário sobre as dificuldades encontradas na
resolução do exercício além de algumas informações sociais dos próprios alunos.
Questão
|
Descritores
|
Ensino
|
Competência
|
1
|
Identificar o tema/tópico central de um texto
|
F2
|
Básico
|
2
|
Ler a medida de comprimento representada graficamente, e reconhecer
registros em centímetros
|
F1
|
Básico
|
3
|
Interpretar representações gráficas e utilizando
elementos posicionais, tais como horizontal e vertical, largura e
comprimento.
|
F1
|
Básico
|
4
|
Utilizar e interpretar unidades padronizadas
de medidas representando-as por símbolos.
|
F1
|
Operacional
|
5
|
Organizar, representar e analisar dados em tabelas.
|
F2
|
Operacional
|
6
|
Organizar e representar dados em tabelas e gráficos
|
F2
|
Operacional
|
7
|
Organizar e representar dados em tabelas e gráficos
|
F2
|
Operacional
|
8
|
Fazer prognósticos a partir de dados
apresentados em tabelas ou gráficos.
|
F2
|
Global
|
9
|
Fazer prognósticos a partir de dados
apresentados em tabelas ou gráficos.
|
F2
|
Global
|
10
|
Produção de um relato científico, objetivo,
utilizando o gráfico em suas afirmações.
|
F2
|
Global
|
Figura 1: Indicação
das questões e seus referidos descritores e competências analisadas. (Onde F1:
Fundamental 1º ao 5ºano e F2: Fundamental 6º ao 9ºano)
ANÁLISE DOS DADOS
1. Analisar
cada descritor tentando descobrir sua variação e normalidade.
2. Analisar
o conjunto de dados tentando descobrir sua variação e normalidade.
3. Ordenar
os dados usando programas de estatística e ordenação de dados (Primer,
Statistica, etc.)
RESULTADOS PRELIMINARES
O
exercício foi proposto a uma turma de Jovens e Adultos do Ensino Médio com um
número de 35 alunos. O exercício exigiu muito do professor pois a turma não
estava acostumada a produzir seus conhecimentos a partir de sua própria ação
autônoma.
Inicialmente muitos decidiram não executar o
exercício sob a alegação de sua extrema dificuldade, porém quando observaram
que muitos alunos estavam processando as informações e conseguindo terminá-lo,
aceitaram o desafio e levaram a cabo sua execução, com a ajuda do professor
e/ou de seus pares. Após a execução do exercício foi solicitado preencherem o
questionário a respeito das dificuldades encontradas no mesmo; além de algumas
informações sociais a seu respeito.
Analisando
as informações através do aplicativo PRIMER, ordenou-se estes dados encontrando
a formação de dois grupos distintos, separados pelos seguintes fatores:
GRUPO 1
|
GRUPO 2
|
Predominância de Homens
|
Predominância de mulheres
|
Idade acima de 30 anos
|
Idade abaixo de 30 anos
|
Ausentes há mais de 5 anos
da escola
|
Estiveram na escola nos
últimos 5 anos
|
Média das dificuldades =
2,6
|
Média das dificuldades =
4,0
|
CONCLUSÃO
O resultado de avaliações
institucionais como o SAEB e O Projeto Nova Escola no Rio de Janeiro apontam
para uma série de problemas de aprendizado e é significativa a parcela de
alunos que termina o ensino fundamental com dificuldades em conceitos e
procedimentos fundamentais (SEEDUC,2006).
O ENEM não contempla tais estudos e analisa os dados do ensino médio com
outros descritores a partir de competências e habilidades deste nível de
escolaridade.
Os
resultados apontam para uma heterogeneidade da população estudada, que a
princípio possa parecer uma barreira para o trabalho pedagógico, no entanto,
estas diferenças podem ser utilizadas como uma ferramenta nos trabalhos em
grupo, onde os alunos com mais maturidade auxiliam os com maiores dificuldades.
Segundo Cole & Scribbner (1974) não há evidências de que algum grupo cultural
tenha deficiências nos componentes básicos dos processos cognitivos. Isto é,
todo ser humano é capaz de abstrair, categorizar, fazer inferências, utilizar
formas de representação verbal etc. Esses processos básicos, disponíveis a
todos, seriam mobilizados em diferentes combinações, dependendo das demandas
situacionais enfrentadas por membros de diferentes culturas (Oliveira, 2005). O
exercício em questão indica que a vivência e história de vida favorecem aos
adultos a compreenderem os saberes escolares com seus saberes aprendidos no
dia-a-dia. Observou-se que alguns descritores do Ensino Fundamental ainda são
de pequeno domínio de alunos do Ensino Médio e que a idade dos alunos auxilia
na resolução de problemas envolvendo tais competências e habilidades.
REFERÊNCIAS
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Ciências. Porto Alegre. UFRGS. 1997.
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Ática. 2010.
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ensinar no século XXI. Porto Alegre. Artmed. 2002.
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Possibilidades. Revista Ensenanza de
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OLIVEIRA, M.K. Jovens e adultos como
sujeitos de conhecimento e aprendizagem. In: Educação como exercício de
diversidade. – Brasília: UNESCO, MEC, ANPEd. 59-82. 2005.
PERRENOUD, P. Práticas pedagógicas,
profissão docente e formação. Perspectivas sociológicas.
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SEEDUC. Reorientação Curricular.
Livro II: Ciências da Natureza e Matemática. Rio de Janeiro. 210 págs. 2006.